Quem Somos

O “Kimbo dos Sobas” – a “aldeia dos chefes” na língua kimbundu, de Angola – ou simplesmente “o Kimbo”, na coloquial simplificação usada pelos seus próximos, foi, durante a sua existência, que se inicia em 1962, primeiro, uma casa de estudantes angolanos deslocados da sua terra natal para frequentarem a mais antiga e prestigiada Universidade portuguesa, que depois se alargou a originários de outras colónias e a portugueses da “metrópole”, passando, em 1968, a “República Kimbo dos Sobas”, assumindo o tradicional estatuto da praxe coimbrã que enquadra a vivência em casas autogeridas de estudantes da Universidade de Coimbra.

Na sua existência física que se prolongou “apenas” por cerca de quatro décadas, o Kimbo dos Sobas representou para muitos dos seus elementos a primeira experiência prática de gestão e de responsabilização pelo bem-estar colectivo (à semelhança de outras Repúblicas) e teve sempre a preocupação de incentivar o seu enriquecimento cultural, cívico e ideológico – dispondo inclusive de uma biblioteca bastante completa para a época, com muitos livros inexistentes ou proibidos no país. Tudo isto visando estimular os seus membros a terem uma intervenção cultural, social e política relevante, assumindo de forma coerente e corajosa uma visão democrática e progressista da sociedade, marcando presença nas frentes anticolonial, antifascista e de defesa dos direitos humanos e de igualdade de género

Nesse contexto haverá que salientar, a forma crítica, por vezes pioneira, como o Kimbo combateu práticas discriminatórias e opressivas da praxe coimbrã e o contributo activo que os seus membros deram, não só nas Crises Estudantis dos anos sessenta e setenta, mas, principalmente, no âmbito mais geral da luta comum de libertação das diversas colónias (nomeadamente de Angola) e do povo português para sacudir o jugo do regime fascista e colonialista de Salazar e Caetano.

 

No Kimbo cruzaram-se gerações de estudantes das colónias (principalmente de Angola) que, afirmando a sua nacionalidade, fugiram para combater pela libertação e independência dos seus países, com jovens portugueses e jovens nascidos nas colónias mas que optaram pela nacionalidade portuguesa, inserindo-se na resistência e oposição à ditadura de Salazar e Caetano.

O facto de, camaradas e amigos fraternos do Kimbo, irmanados na luta contra o fascismo e colonialismo português, se poderem encontrar (de facto) a combater com armas em lados opostos das trincheiras, marca bem a violência e complexidade dos dilemas dilacerantes que enfrentaram as gerações de jovens dessa época.

Com a libertação revolucionária do 25 de Abril de 1974, o fim da ditadura e o processo de descolonização para que de diversas formas deram o seu contributo, muitos elementos do Kimbo continuaram a empenhar-se na construção de uma sociedade mais livre e mais justa nos respectivos países, deixando uma marca de progresso de que muito se orgulham.

Também após o 25 de Abril, as condições trazidas pela democracia alteraram muito da vida e das formas de luta dos seus novos elementos, mas mantendo os traços essenciais das lutas anteriores – forte participação e intervenção democrática de todos os seus membros, quer no movimento estudantil quer na luta política geral, pelo aprofundamento da democracia e da relação intercultural com jovens das ex-colónias e de outras partes do mundo.

Em 2001, os oito elementos da República tiveram que abandonar o edifício da Rua Antero de Quental, em obediência à Notificação de Despejo Sumário emitida pela Câmara Municipal de Coimbra, em 28 de Março, face ao avançado estado de degradação do imóvel, apresentando um “aumento das fissuras existentes e o aparecimento de outras”, conforme constava no Auto de Vistoria realizado no dia 2 de Fevereiro desse ano. Arrendaram, então, uma cave na R. Guerra Junqueiro, onde se mantiveram até à dissolução em 2004.

Fundador do Kimbo dos Sobas é autor da letra do Hino de Angola